O pesquisador Carlos Padovani, da Embrapa Pantanal, publicou um artigo em que aborda uma metodologia que reduz erros de cálculo sobre a estimativa de tempo que uma onda de inundação percorre durante a enchente do Pantanal. Nesta entrevista, ele explica como funciona a metodologia. Acompanhem:
Pecuária do Futuro: Como funciona a metodologia?
Carlos Padovani: A análise de previsão do nível do rio para estimativa de inundação deve fornecer dois resultados principais: 1 – quanto será o nível do rio no futuro próximo e 2 – quando esse determinado nível ocorrerá. O estudo enfoca nesse segundo parâmetro de tempo, o tempo de viagem da água de um lugar para outro.
PF: Que avanços essa metodologia apresenta em relação aos métodos tradicionais?
Carlos Padovani: Os métodos tradicionais de hidrologia para estimar parâmetros de tempo requerem análises rigorosas das relações entre resistência ao fluxo, declive, regime de fluxo, tamanho da bacia, velocidade da água e outras variáveis físicas. Esse conjunto de dados nem sempre está disponível em quantidade e qualidade, como é o caso do Pantanal. Para superar essa barreira, foi desenvolvida uma abordagem orientada a dados para estimar o tempo de viagem da água, usando apenas duas séries temporais de nível de rio, uma a montante (rio acima) e outra a jusante (rio abaixo).
PF: Que ferramentas foram aplicadas e em que locais?
Carlos Padovani: Essas duas séries temporais foram alinhadas usando as ferramentas de análise: distorção dinâmica do tempo derivado (DDTW) e pontos perceptualmente importantes (PIP). Uma função polinomial generaliza os dados induzindo um estimador de tempo de viagem na água, chamado PolyWaTT. Para avaliar o potencial do PolyWaTT, este foi aplicado em três bacias hidrográficas diferentes: o Pantanal matogrossense, o rio Missouri e o rio Pearl, nos Estados Unidos, comparando-o às fórmulas empíricas dos métodos tradicionais de hidrologia.
PF: Que resultados foram obtidos?
Carlos Padovani: Os resultados experimentais demonstraram que o PolyWaTT apresentou um erro absoluto médio mais baixo do que todos os outros métodos testados. Para distâncias maiores, o erro absoluto médio alcançado pelo PolyWaTT é três vezes menor que as fórmulas empíricas. Porém, apesar dos resultados promissores, esse método ainda não está no estágio operacional desejado para aplicação em um sistema de alerta, que requer uma série longa de dados pareados dos locais de jusante e montante.
PF: Essa pesquisa continua?
Carlos Padovani: Sim, atualmente, estamos concentrando esforços na busca de metodologias para retificar as séries de dados de nível dos rios a partir de modelagem com imputação de dados faltantes, para obter séries de dados contínuas e mais longas.
PF: Qual o público alvo que poderá se beneficiar da metodologia?
Carlos Padovani: Acadêmicos e pesquisadores em hidrologia e em outras ciências da terra, assim como pesquisadores de outras áreas. Uma vez resolvidos os problemas com a quantidade e qualidade dos dados, de forma que a metodologia possa ser adotada operacionalmente em um sistema de alerta, todos os stakeholders poderão se beneficiados.
PF: Que benefícios essa estimativa traz para o setor produtivo?
Carlos Padovani: Os benefícios do aprimoramento de um sistema de alerta, com o desenvolvimento de metodologias como essa, são previsões mais precisas e de mais longo prazo. Alertas e recomendações mais precisos proporcionam tomadas de decisão mais assertivas por parte dos pecuaristas na eminência de uma grande cheia que possa vir a lhes causar transtornos e prejuízos financeiros com a movimentação do gado para fora das áreas sujeitas a inundações.
PF: A metodologia tem potencial para ser aplicada no campo?
Carlos Padovani: Esse estudo foi um ensaio experimental, que uma vez aplicado a uma série de dados mais longa e de boa qualidade, tem o potencial ser utilizado operacionalmente no Pantanal ou em outras bacias hidrográficas.
Foto abertura: Carlos Padovani