Sistema de monitoramento produz alertas e previsões sobre a inundação pantaneira

GeoHidro-Pantanal subsidia tomadas de decisões em épocas de cheia

Pantanal e suas inundações. Foto: Nicoli Dichoff

Alertas de cheias, previsões e outros informativos são alguns dos produtos gerados anualmente pelo sistema de monitoramento de cheias no Pantanal, o GeoHidro-Pantanal. Desde 2013, o pesquisador Carlos Padovani reúne informações referentes ao nível dos rios, áreas inundadas, chuva, imagens de satélite e outros dados de diversas instituições para analisar tendências e emitir comunicados sobre as inundações sazonais na região pantaneira do país.

Como funciona – “O monitoramento é composto da busca, coleta e análise dos dados de toda a bacia do alto Paraguai”, explica Padovani. O sistema correlaciona informações produzidas por instituições como a Agência Nacional de Águas (ANA), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e George Mason University (Virgínia, EUA). “O período de chuvas ocorre principalmente de outubro a março. Em janeiro, temos uma previsão do que vai acontecer em fevereiro, março e abril”.

Segundo ele, a Embrapa Pantanal (Corumbá-MS) filtra, de certa forma, os dados reunidos para análise, personalizando informações e focando naquelas que são relacionadas à realidade do bioma. O pesquisador realiza recortes de mapas, sobrepõe limites de bacias e dados das principais cidades nesses materiais, por exemplo. “A gente localiza, então, para as pessoas o que está acontecendo na bacia do Alto Paraguai. Assim, o GeoHidro-Pantanal gera previsões de maneira qualitativa e quantitativa”, informa.

Atualmente, os alertas e previsões têm foco em Mato Grosso do Sul, mas o pesquisador esteve em reuniões recentes com instituições como a Federação de Agricultura e Pecuária de MT (Famato), Associação dos Criadores de MT (Acrimat), Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA), Centro de Pesquisa do Pantanal (CPP) e Senar-MT para discutir, divulgar e viabilizar o monitoramento das cheias também em Mato Grosso.

Análises recentes – Com o sistema foi possível realizar previsões bastante precisas, como a inundação deste ano – que, embora volumosa, esteve dentro da faixa mais comum de cheias do bioma pantaneiro, atingindo a máxima de 5,35 m na régua de Ladário (MS). A inundação em 2018 teve influência significativa não apenas pelo transbordamento do rio Paraguai, mas pelas chuvas intensas locais. Algumas regiões que não sofrem a influência dos rios, como a do Paiaguás e Nhecolândia, foram bastante afetadas por essas precipitações, relata o especialista em ecologia aplicada.

“Esse ano, a gente pôde produzir dois laudos: o primeiro, mais emergencial, para a Defesa Civil começar a se articular sobre ações relacionadas aos ribeirinhos, à comunidade afetada diretamente”, esclarece. “Já em março, a gente fez um segundo laudo – demandado pelo Sindicato Rural de Corumbá, mais atualizado sobre a situação”. Elaborado por uma comissão na Embrapa Pantanal, esse último documento pôde atestar o número de animais que precisariam ser deslocados em função das cheias e o quanto isso custaria aos produtores locais.

Ele reforça que “para os pecuaristas, a vantagem do sistema de alerta é avisá-los com antecedência para que eles façam essa movimentação do gado com o mínimo possível de perda de rebanho e recursos” e completa “a cheia acontece na época de venda e descarte do gado. Então, ocorrem vários leilões na região para compra desses animais. Se a cheia é mais intensa, rigorosa (como foi este ano em alguns locais), a oferta para venda aumenta muito e isso faz cair o preço do gado. Quanto mais a gente alertar com antecedência, menos esse fluxo se concentra em determinada época”.

Divulgação da pesquisa – Recentemente, o pesquisador ministrou uma palestra a produtores, técnicos, profissionais e universitários sobre o tema em Cáceres, MT, durante a 5ª Semana Agronômica da cidade. “A gente pôde explicar como é feito o monitoramento, como é o sistema de alerta, quais são as metodologias aplicadas”. Porém, Padovani também usa recursos como o Facebook para divulgar os dados reunidos nesse monitoramento. A equipe trabalha, ainda, para finalizar uma página dentro do portal on-line da Embrapa com dados sobre o tema.

“Há também um trabalho ativo de divulgação da informação na mídia (televisão, impresso, rádio e internet). Em todos os meios possíveis de divulgação a gente participa ativamente e procura informar a população sempre que possível. Esse sistema é complexo. A gente deve e vai aperfeiçoá-lo sempre porque as tecnologias vão mudando e melhorando – principalmente as de coleta de informações e a informação é fundamental”, diz Padovani.

O sistema integra atualmente as atividades englobadas pelo projeto Pecuária do Futuro. Acesso à página GeoHidro-Pantanal no Facebook.